Ao longo do mês de janeiro deste ano, tive o privilégio de fazer parte da experiência missionária promovida pelo regional Nordeste II, na diocese de Floresta, sertão pernambucano. As palavras são sempre insuficientes para descrever a experiência. Penso que a missão, como vocação batismal e paradigma da Igreja, é um tempo de vivenciar a graça de Deus, manifestada em tantos rostos, em tantas vidas, em tantas comunidades reunidas para a vivência da fé. Foram dias desafiantes, de muito calor, de muito suor, de muitas caminhadas, de muitos abraços e também lágrimas de gratidão.
O povo simples e sofrido do sertão demostrou um espetáculo de acolhida e hospitalidade, partilhando da pobreza, que se manifesta como expressão da maior riqueza humana. O drama da seca e da falta da água não tiram do povo a esperança, a fé e o reconhecimento da generosidade divina. A terra seca que pisei é fértil em gestos de acolhida, de fraternidade e entusiasmo. A vida pobre em bens materiais é rica em expressões de carinho e bondade. Por isso, na missão, mais do que evangelizar é ser evangelizado, mais do que levar Deus, é encontrá-Lo nos rostos sofridos e gastos diante da dureza da vida. Acima de tudo, penso que a missão, como dizia Dom Helder Câmara, é “sair de si mesmo, é abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los”.
A missão é fonte de humanização, de renovação da fé, de aprendizado e de esvaziamento, de modo a deixar-se preencher por aquilo que as culturas têm de mais genuíno e precioso. Experiência gratificante também foi conviver com os povos indígenas, com seus ritos e tradições, e banhar-me nas águas do Rio São Francisco que é sinal de vida em meio a terra seca, levando esperança aos interiores do sertão onde o drama da falta de água impossibilita a vegetação e a agricultura.
Sou muito grato as aldeias indígenas do povo Atikum, da Paróquia Sagrada Família de Carnaubeira da Penha, assim como a Paróquia Santo Antônio de Ibimirim e São Francisco de Petrolândia, PE, por abrirem as portas para que eu pudesse conhecer e aprender com as comunidades. Gratidão também a tantos colegas, companheiros de missão, que foram grandes parceiros nos desafios que se apresentavam. Valho-me, mais uma vez dos dizeres de Dom Hélder, para sintetizar a experiência vivenciada: “mais que comum dos dias, olhei o mais que pude os rostos dos pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, e neles descobri teu rosto, Cristo Ressuscitado!”.
Seminarista Luciano Dalmolin, da etapa da Teologia (Configuração). Em 2020 fará estágio pastoral na Paróquia Santo Antônio, em Bento Gonçalves.